E POR FALAR NO FRIO...
Aquele frio nos gelava até a alma. Agasalhávamos-nos o mais que podíamos e, mesmo assim, os ossos pareciam enrijecidos. Como nunca gostei de café, sugava aquele chocolate quentinho e devorava os chimangos e beijus que minha mãe docemente preparava para o café da manhã.
Havia aulas aos sábados. As ruas, ainda calçadas de paralelepípedos, eram percorridas por carros de bois carregados de lenha ou de produtos da roça e por cavalos e pequenos jumentos. Os moradores do campo se atreviam a vir de véspera ou a acordar na madrugada para chegarem a tempo de vender seu produto e levar o que lhes faltava em casa.
Quando a feira era no mercado velho (hoje demolido), meu pai possuía um depósito na rua de cima para armazenar a mamona que comprava para comercializar. E, ao sair da escola, íamos, eu e Fiim, nos divertir escalando as sacas e brincando com os grãos. Depois descíamos até a feira para comprar tangerina (mais conhecida como “laranja tanja”) e coquinho. Era hora de nos deliciarmos com as gostosuras da nossa terra!
À noite, por mais que o tempo parecesse gelado, ninguém dispensava a famosa volta no jardim da praça. Rapazes, sempre em grupos, sentados nos bancos (em geral no recosto) ou em pé, diziam gracinhas quando passávamos de braços dados sorrindo. Eram provocações puras, ingênuas. Uma juventude feliz que se formava ali e que sonhava com o mundo das capitais. Com as faculdades então tão distantes. Com empregos que lá não existiam.
A neblina matinal era uma marca da nossa Caetité. Quem da nossa geração não a sentiu penetrando os ossos da face? Congelando a ponta do nariz e os dedos das mãos? Quem não se aconchegou no borralho dos fogões de lenha que tanto enfeitaram nossa infância e adolescência? Quem, tendo irmã, não correu à noite para a cama da mesma ou se imiscuiu entre os pais para se sentir mais aquecido e protegido do “senhor inverno”? Era gostoso demais fazer tudo isso e acordar, pela manhã, com o cheirinho do café e das habituais guloseimas matinais! Aquele bolo de milho, o requeijão cozido e amarelo forte, o queijo branco redondo, o bolo frito maravilhoso e o beiju com manteiga de garrafa! Ah! Que saudade! Que vontade! Que coisa mais gostosa de se lembrar!
O tempo passou mas o frio de Caetité ainda é o mesmo. O cheiro da terra molhada após a chuva. O vento na árvores e o canto dos pássaros. Como é doce ver a cidade que cresceu e o povo novo que ali surgiu! Como é bom sentir que o progresso se adonou da nossa Vila do Príncipe e a tornou um centro de comercio, de estudos, de evolução que se infla com novas ruas e prédios, com avenidas largas e arborizadas. Com a ousadia de quem quer ser adulto!
Novas escolas e novas metas. “Crescei e se multiplicai”, como disse a Bíblia. E a terrinha da gente se adaptou às leis do Universo e deixou os nossos sonhos juvenis como lembranças e mostrou que pode ir muito mais além. Seus jovens de agora trabalham e produzem além de estudar. Têm nas mãos as armas do desenvolvimento cibernético que os inclui no mundo à velocidade da luz. Estão muito distantes da nossa geração que não conhecia a TV e nem sonhava que um dia iriam existir os tablets e os celulares que falam com o Japão como se o mesmo estivesse no nosso quintal. É uma nova era, um tempo que anda a mil por hora.
Talvez esses novos seres que nos substituíram nunca tenham subido numa mangueira ou num pé de jabuticabas. Talvez não conheçam o prazer do melaço quente grudado na cana raspada ou o gosto da fruta roubada do quintal do vizinho. Ou nunca tenham “quebrado a guabiroba” e nem tomado banho na Passagem da Pedra. Suas diversões são outras e seus anseios também. Mas uma coisa eles conhecem, pois isso não muda! O “frio gelado” que anda na garupa do vento dessa cidade serrana e tão amada que é Caetité!
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