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Luzmar Oliveira, crônicas da vida

01.07.2013, 09h48 Por Luzmar Oliveira 1646 Comentários

NÃO MAIS PEQUENINA, MAS CADA VEZ MAIS ILUSTRE!

Amanheceu. Abro a janela do meu quarto e sinto o ar puro da minha terra encher os meus pulmões!

É dia do meu aniversário e completo quinze anos. Sou uma menina-moça e já posso namorar, sair à noite para o jardim da praça e frequentar festinhas. Posso até ir ao clube e dançar com os rapazes. Ah! Que maravilha é crescer e ser uma mocinha! Como sonhei com esse dia!

E os anos se passaram e as janelas se sucederam como eles. Meus quinze anos se distanciaram de mim como eu da minha velha casa. E o tempo, inclemente, foi andando, mas não conseguiu destruir as lembranças e saudades!

Havia uma escola onde aprendi o “be-a-ba”. Havia uma professora que me ensinou a ler e escrever e, achando pouco, plantou em mim o amor aos livros fazendo-me sonhar com eles trazendo o meu nome na capa. Uma certa dona Judith Moreira Lima que eternizou a poesia em minha alma e incitou-me a voar com minhas próprias palavras! Ensinou-me a rimar trovas e escrever versos quando me punha na sala da sua casa e, por horas a fio, fazia-me repetir estrofes para declama-las em público nos festejos da escola.

Havia um clube na praça onde as meninas debutavam em bailes oníricos! Eu nunca debutei. Engraçado como isso nunca me fez falta. Mas debutei na vida aprendendo a dirigir aos quatorze anos e ganhando estradas aos quinze. E aos quinze tive meu primeiro namorado. E entrei no primeiro ano do Curso Normal (hoje magistério). E ganhei minha alforria para sair à noite e curtir a praça, o jardim (que não era jardim) e curtir os amigos.

E aos quinze escrevi meus primeiros versos e comecei a datilografa-los e os encadernei em forma de livros que ainda moram em minha estante.

Aos quinze experimentei o cigarro roubado de Fiim e não suportei...

Aos quinze sentia-me moça, mulher e passava esmalte nas unhas e maquiagem no rosto.

Havia um tal Clube Barauna no outro extremo da cidade e, já moça de verdade, frequentava as suas festas e divertia-me com as bandas que la tocavam. Inclusive a nossa amada Os Tártaros! Ali vivi momentos felizes, dancei muito e tomei meus primeiros goles de cerveja.  O Barauna era o clube dos nossos pais, da nossa gente querida e não existiam preconceitos que impedissem todos os moradores da cidade de entrarem lá. Era carnaval, era São João, era qualquer festa. Enchia. E a alegria dominava corações! Corpos volteavam na pista deslizando conforme a música tocada.

Sentadas em torno das mesas, as moças esperavam que os rapazes as tirassem para dançar. Haviam, claro, os preferidos. Haviam também os “pé de valsa” que davam verdadeiros shows no salão. Quando Nubia e Zevaldo entravam em cena, eu parava e abria a boca de admiração. Que inveja daqueles irmãos que eram mestres na dança!

No carnaval meu irmão Fiim chegava com Nalvinha e sua inseparável tolha no pescoço. E só saiam do salão quando calava o último acorde!

Havia uma festa de Santana. Aquela que cresceu com o passar dos anos e tornou-se uma marca da nossa Caetité. A cada ano aglomera mais e mais pessoas, transformando suas novenas em momentos especiais seguidos de uma festa de largo onde todos se encontram para beber, conversar, comer e se abraçar. Hoje há um palco na praça e todas as noites ele é ponto de atração, pois apresenta cantores que fazem sucesso e nos deleitam com suas musicas maravilhosas!

E não havia a Lavagem da Esquina do Padre! Mas nasceu! Nasceu e cresceu tornando-se talvez o evento mais concorrido daquela cidade serrana que tanto nos apaixona! É um carnaval temporão e uma festa típica ao mesmo tempo. Bandas, folclore, blocos e mascarados ululam pelas ruas, junto ao tradicional “Boi de Idalino”, temperando os dias com alegria e a felicidade de comemorar a vida! Atrai turistas e vizinhos. Atrai os filhos distantes que voam para o seio da cidade querida em busca dos abraços amigos, do reencontro e da descontração de um momento tão nosso e tão desejado. É a festa do ano! É a bola da vez! É a alegria do caetiteense criando mais uma etapa da sua história e construindo lembranças e saudades para o amanhã.

E o amor só cresce! Histórias de um passado tão nosso e o presente de uma nova geração que quer ser lembrada e ter lembranças.

Essa é a nossa terra de Santana! A nossa Vila do Príncipe! O nosso baronato que nos orgulha tanto! É a terra que amamos e por quem, às vezes, derramamos lágrimas de saudades!

Uma cidade que cresce e onde o povo se multiplica. As ruas nascem aqui e acolá. Há novas escolas, hospitais e o comercio se espalha. Gente que nasceu ali e gente que veio de longe. É a nossa Caetité! Terra do amor e da cultura... já não pequenina, e cada vez mais ilustre!

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